Vida de Inseto: Liderar e Empreender nas aulas de Projeto de Vida
- Leonardo Campos
- 24 de jul. de 2024
- 4 min de leitura
As lições de empreendorismo e liderança para as aulas de Projeto de Vida

Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Quatro pilares que integram um relatório da UNESCO, emitido em 1996, direcionamento para muitas reflexões sobre a formação dos nossos jovens, cada vez mais desafiados por um mundo que se transforma vertiginosamente. Adquirir instrumentos de compreensão, agir sobre o meio que o envolve, a busca por cooperação com o outro na realização de atividades e a associação com o conceito principal que dialoga com todos os outros mencionados. Respectivamente, estas são as definições para os pilares citados na abertura deste parágrafo, conjunto de direcionamentos que refletem a importância do desenvolvimento de habilidades e competências para o século XXI. Aqui, para permitirmos um debate caloroso diante de uma jornada de aprendizagem com possibilidades significativas, deixo a indicação de Vida de Inseto, animação assertiva para rodas de conversa, seminários e outras metodologias em sala de aula, tendo em vista dialogar com tópicos temáticos que envolvem liderança, empreendedorismo e construção de um projeto de vida, este último, itinerário que é parte integrante do novo Ensino Médio.
Lançada em 1998, Vida de Inseto é uma animação que conta com as vozes de um grande elenco do esquema industrial estadunidense: Dave Foley, Kevin Spacey, Hayden Panettiere, Julia Louis-Dreyfus, David Hyde Pierce, Richard Kind, Phyllis Diller, dentre outros. A narrativa sobre formigas oprimidas que se tornam fortes ao digladiarem com gafanhotos tiranos se passa no cotidiano de uma colônia que precisa recolher, arduamente, uma considerável quantidade de alimentos para os invasores na posição de poder, tendo em vista evitar o encontro com a morte por não obedecer aos ditames desta relação de colonização e opressão. Julgadas como frágeis e fracas, as formigas são constantemente aterrorizadas pelos gafanhotos. Inicialmente, não conseguem reagir, temerosas diante do que pode acontecer com o seu grupo, preferindo, então, obedecer ao que é ordenado. As coisas mudam quando uma delas decide ouvir o seu coração e ativar as boas ideias que circulam dentro de si. É o Flik, a formiga revolucionária. Desacreditado, torna-se o herói de todo o processo ao passo que a narrativa se desenvolve.
Além do interesse em conquistar Atta, uma princesa, o personagem precisa ressignificar a sua trajetória. Antes de estabelecer uma revolução mais engajada, ele já começa organizando a dinâmica de trabalho dos seus parceiros, elaborando materiais que permitem o melhor desenvolvimento das atividades. Ao se posicionar assim, Flik demonstra versatilidade, engajamento, inteligência emocional e uso assertivo da tecnologia, tornando as missões diárias um pouco menos ofegantes. Ao perceber que a sua colônia está longe de se libertar do regime de opressão perpetrado pelos gafanhotos, ele sai em busca de novas parcerias com outros insetos, tendo em vista fortalecer a sua região e colocar em prática um jargão do tipo “pequenos unificados podem ir muito longe”. Sabiamente, ele lidera o trabalho em equipe, permite que os seus sonhos sejam alcançados e ao pensar na relação com o “outro”, pavimenta um extenso caminho de esperança, para que todos possam caminhar juntos, cada um, por sua vez, dentro de suas possibilidades, singularidades e alteridades.
Vida de Inseto foi a segunda animação da Pixar, uma narrativa sagaz e inteligente que nos lembra pontos trabalhos em Os Sete Samurais, do cineasta japonês Akira Kurosawa, relido em Sete Homens e Um Destino, adaptação do conteúdo para o Velho Oeste estadunidense. As suas bases, no entanto, estão estruturadas no popular conto A Formiga e a Cigarra, nalguns casos, o sonoro inseto é substituído por um gafanhoto, haja vista a escolha de algumas edições brasileiras que expõem a história em livros publicados por aqui. Sob a direção da dupla Jon Lasseter e Andrew Stanton, guiados pelo roteiro que compuseram, juntamente com uma significativa sala de roteiristas que ainda conta com Bob Shaw e Joe Ranft, a produção traz, ao longo de seus 95 minutos, lições interessantes sobre liderança, empreendedorismo e, como se propõe na educação básica hoje, reflexos sobre os nossos projetos de vida. Assim, a nossa formiga protagonista elabora um planejamento audacioso para sair de sua condição “escrava” e se torna a líder de uma revolução que pensa não apenas em si, mas no coletivo, afinal, mesmo que conseguisse se libertar as amarras impostas, ninguém vive sozinho, não é mesmo?
Visualmente interessante e muito longe de ser datado, Vida de Inseto contou com uma cuidadosa equipe técnica de produção, por isso, alcançou bons resultados além de sua estrutura dramática. A direção de fotografia de Sharon Calahan traz dos esboços, quadros e movimentos que contemplam os principais conflitos da animação, o design de produção de William Cone capricha na criação dos espaços por onde os personagens circulam, além da entrega de figuras que dialogam com as propostas do texto, isto é, enquanto os gafanhotos são construídos como monstros ditadores, as formigas ganham características humanas, com pernas e braços, numa alegoria muito interessante sobre as coerções do capitalismo, a manutenção disfarçada do colonialismo, numa representação cabal de nossa sociedade composta modelos de sistemas. Aqui, as formigas protagonizam o que podemos chamar de uma revolução da classe trabalhadora, guiada por um líder inicialmente desacreditado por todos, mas que comprova o seu engajamento em um novo projeto de vida que não pensa apenas em si, mas na coletividade.
Diante do exposto, nesta jornada de reflexões sobre protagonismo juvenil, também possível de ser pensada numa perspectiva adulta, em empresas e demais grupos de trabalho, Vida de Inseto é uma narrativa que abre possibilidades para dialogarmos a construção de conhecimentos e valores que nos permita a tomada de decisões simples ou importantes; o vislumbrar de cenários diferenciados e a maneira como agiremos dentro de suas dinâmicas; a construção de projeções entre o hoje e o amanhã, com caminhos traçados por escolhas mais conscientes; o desenvolvimento da responsabilidade diante de nossas opções, num processo de compreensão sobre o que é escolhido no presente como ponto de partida para os resultados do futuro; a prática constante da vivência protagonista e a construção de um projeto de vida. A animação é um dos tantos recursos da linguagem cinematográfica para o uso em sala de aula, numa busca dos professores orientadores por encontros que tenham como foco, o estabelecimento de dinâmicas de aprendizagem que permitam aos estudantes uma jornada crítica e reflexiva.
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