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Reflexões sobre Finanças no Cinema

Como filmes ficcionais e documentais e as séries televisivas podem fornecer lições valiosas de educação financeira e gestão orçamentária


Como filmes ficcionais e documentais e as séries televisivas podem fornecer lições valiosas de educação financeira e gestão orçamentária
Fonte: 071 News

Controle de gastos, poupar dinheiro e fazer investimentos. Estes são alguns pilares da educação financeira, proposta que ao ser inserida na educação básica e acompanhar a nossa juventude até a fase adulta, permite que tenhamos cidadãos conscientes de seus gastos e consumo e possam gozar dos privilégios de uma vida saudável em diversas perspectivas. Pessoas educadas financeiramente conseguem ter uma consciência mais ampla e firmeza diante dos impulsos quando o assunto é o seu orçamento pessoal, atravessando o cotidiano já cheio de obstáculos e adversidades sem preocupações desnecessárias e níveis de estresse que comprometem os seus relacionamentos pessoais, profissionais e até mesmo a convivência consigo mesmo, afinal, nada melhor que deitar a cabeça no travesseiro para dormir e saber que no dia seguinte, não precisará driblar os telefonemas e mensagens com cobranças de débitos que nos tiram do sério.


Nos meandros da educação financeira, as pessoas conscientizadas aprendem a lidar com o dinheiro sem que este controle as suas ações. Em linhas gerais, é um processo de transformação dos hábitos inadequados, bem como valores que mexem com a tessitura de suas vidas e permitem que estas entendam cabalmente o universo do dinheiro e as ferramentas possíveis para lidar com as finanças. É a pavimentação de um caminho que vai além do ato de economizar, num projeto de conscientização que faz os indivíduos traçarem um panorama das oportunidades e riscos envolvendo a temática urgente, haja vista o nosso contexto de mudanças econômicas bruscas e surpresas constantes. Na educação financeira, as pessoas são norteadas e recebem as instruções para melhor decidir o que fazer com o dinheiro que recebem, saindo do tortuoso ciclo dos ratos, termo que designa a prática costumeira de milhões de consumidores não apenas no contexto brasileiro, mas em escala mundial, isto é, trabalhar para comprar, depois pagar, trabalhar de novo e continuar pagando por aquilo que compra, sem reservas, apenas perpetuando uma narrativa cíclica onerosa em suas existências.


No bojo da educação financeira, fala-se sobre três conceitos básicos: ganhar, economizar e investir. É um caminho para a construção de patrimônios, ter condições favoráveis no futuro e dar conta de honrar os compromissos firmados nas despesas, tendo em vista evitar problemas financeiros. Ao passo que o indivíduo trabalha e acumula recursos, torna-se viável gerenciar e multiplicar tais fontes, mantendo assim os gastos mapeados e sob controle. É, também, uma mudança de mentalidade que visa administrar bem as suas próprias receitas. Por isso, tal como na educação para o trânsito e a consequente formação de pedestres e condutores responsáveis do futuro, a educação financeira colabora com as precauções de uma vida adulta endividada, afinal, a desorganização do dinheiro precocemente é algo muito corriqueiro em nossos tempos. Para isso, compartilharei uma breve situação que testemunhei há alguns anos, conectada diretamente com as explanações deste preâmbulo que pretende ser elucidativo.

Como filmes ficcionais e documentais e as séries televisivas podem fornecer lições valiosas de educação financeira e gestão orçamentária
Fonte: Leonardo Campos (Acervo Pessoal)

Certa vez, enquanto atravessava a cidade para chegar ao trabalho, observava um grupo de jovens programados para um passeio no shopping. Na fala de uma das garotas, mantive-me atento. Ela dizia que ia comprar algumas roupas novas, porque estava cansada de usar coisas antigas e já surradas. O interesse veio também porque ela tinha acabado de conseguir o seu primeiro cartão de crédito, com um limite baixo, mas suficiente para satisfazer os seus interesses. Quando questionada sobre como iria pagar a fatura da dívida a ser parcelada, informou que não tinha se preocupado, pois conforme depoimento de sua tia, o débito não pago sairia em cinco anos dos registros de proteção ao crédito. Mesmo sem trabalhar para pagar o que comprou, a jovem sequer refletiu sobre como estabelecia as suas condições financeiras numa vida adulta prestes a começar já endividada e caótica. Infelizmente, muitos dos nossos jovens pensam de maneira parecida, despreparados para uma vida onde assuma as consequências de atitudes do tipo. Outro caso, também válido para delinear o tema, veio de um adulto pouco responsável.


Ansioso e interessado em fazer parte da histeria coletiva da Black Friday, o indivíduo fez o levantamento das coisas que eram de seu interesse no dia conhecido por promoções arrasadoras e ofertas imperdíveis. Saiu de casa, atravessou um trânsito absurdamente congestionado por causa da grande movimentação nos centros comerciais que cortam as principais vias da cidade, tendo em vista satisfazer aos seus anseios com dinheiro tomado de empréstimo. Sim, a figura que é parte da vida real, diferente dos personagens ficcionais abordados no tópico seguinte, exclusivo sobre educação financeira em narrativas cinematográficas, ligou para um cidadão conhecido e que trabalhava com empréstimo de dinheiro a juros, popularmente conhecido como agiota, para conseguir fazer as suas compras de produtos em promoção. Tomou R$500 e pagou R$650 no mês seguinte, pois o acordo previa juros de 30%. Em sua atitude consciente, mas guiada pelos desejos, ele teve os produtos que queria, tornando-se parte da coletividade consumista, mas arcou com os juros depois. Pior, o abatimento do que era promocional não teve sentido, pois o pagamento da dívida mais adiante deu praticamente no mesmo que adquirir tudo por preços normais. Uma situação tola e pitoresca, mas absurdamente verdadeira.


Diante do exposto, torna-se importante a preocupação dos gestores, coordenadores, professores e familiares, a criação de hábitos críticos diante das finanças desde cedo. Especialistas reforçam que por meio desta prática, os jovens estudantes inserem em seus respectivos cotidianos, práticas comportamentais que fazem toda a diferença no futuro. Disciplina, autocontrole emocional, organização detalhada e descrição em planejamentos, visão analítica do cenário em que se encontra inserido, bem como gerenciamento inteligente das finanças, dentre outras ações, podem criar a modificação de perspectivas. No Brasil, em 2009, foi criada uma lei que determina o tema como parte da grade curricular escolar, iniciativa que tem como intuito, permitir que as crianças e jovens sejam capacitados a alcançar e manter independência financeira. Ter uma planilha, estipular metas, planejar e pagar adequadamente as dívidas e criar uma planilha financeira para controle e visão panorâmica dos gastos são alguns dos caminhos quando o assunto é debatido na seara da sala de aula. Narrativas ficcionais, por exemplo, são opções lúdicas para permitir a reflexão abrangente e agradável sobre educação financeira, algo que funciona na dinâmica da sala de aula e se relaciona de maneira interdisciplinar com diversos segmentos importantes da formação dos nossos jovens, cidadãos do futuro. Observe.


O Cinema e a Educação Financeira: Reflexões e Entretenimento


Para quem desejar refletir sobre o assunto por meio de estratégias pedagógicas, o cinema e as séries televisivas apresentam algumas opções que permitem a demarcação de um eixo temático de debate, além de questões gravitacionais que abrangem as discussões sobre educação financeira e ocasionam um processo de ensino-aprendizagem mais assertivo e enriquecedor. O documentário Vivendo Com Um Dólar, lançado em 2013, é uma dessas opções. Dirigida e escrita por Sean Leonard, Chris Temple e Zach Ingrasci, a produção narra a história de quatro amigos que decidem realizar uma viagem para a Guatemala, tendo como projeto, viver apenas com um dólar diário cada um. Como se alimentar? E manter o sono saudável? São diversas perguntas que surgem diante desta narrativa que tece uma crítica contundente ao nosso sistema, repleto de desigualdades sociais, tal como ocorre com o drama A Procura da Felicidade, lançado em 2006, protagonizado por Will Smith e Jaden Smith, personagens inspirados numa história escrita por Steve Conrad e dirigida por Gabriele Muccino.


Como filmes ficcionais e documentais e as séries televisivas podem fornecer lições valiosas de educação financeira e gestão orçamentária
Fonte: Leonardo Campos (Acervo Pessoal)

O ator interpreta Chris Gardner, um homem desempregado e arrasado com os rumos de seus endividamentos, abandonado pela esposa, Linda (Thandiwe Newton), mulher que via no protagonista um homem fracassado, sem jeito a dar para tantos problemas considerados infindáveis. Desesperado, ele perambula em busca de uma oportunidade, pois ao longo de boa parte dos 117 minutos da história, dorme em abrigos e se alimenta parcamente. É uma luta angustiante pela sobrevivência, até que ele consegue um estágio sem remuneração numa corretora de ações que não exige formação acadêmica, local que o ajuda a pavimentar um novo caminho e trilhar uma existência mais digna, mas não menos embasada em grandes sacrifícios. Ao trazer o drama para o contexto da educação financeira, podemos discutir a importância do estabelecimento de objetivos quando temos demandas para dar conta, tal como no caso de pessoas mergulhadas em dívidas desastrosas, ocasionadas por problemas diversos, isto é, compras impulsionadas por consumismo ou até mesmo assumir débitos alheios.


No cinema brasileiro, duas opções interessantes para reflexão: O Homem Que Copiava, de Jorge Furtado, e Até Que A Sorte Nos Separe, de Roberto Santucci, ambos de 2003 e 2012, respectivamente. Na produção realizada por Furtado, Lázaro Ramos interpreta André, um jovem operador de uma copiadora, perdidamente apaixonado por Silvia (Leandra Leal), a sua vizinha. Dentre tantos acontecimentos do filme, interessante observar como ela se organiza para juntar uma quantia para ter o dinheiro suficiente e, assim, convidar a moça para um sorvete. Além do propósito dentro do eixo temático em questão, a versar sobre sacrifícios e objetivos, o filme também traz debates variados sobre desigualdade, corrupção e dilemas das pessoas que vivem mensalmente na corrida dos ratos, trabalhando para consumir, tendo que pagar posteriormente e mais adiante, dar continuidade ao processo cíclico aparentemente interminável. No segundo caso, uma família protagonizada por Leandro Hassum e Danielle Winits ganha na loteria, mas desperdiça todo o dinheiro com coisas luxuosas fúteis. Ao passo que as finanças entram no vermelho, o patriarca terá que explicar para a esposa que a vida de privilégios terá que entrar nos eixos, pois eles não dispõem mais da riqueza acumulada pelo prêmio. Divertida, a produção flerta com a importância da administração financeira, gerenciamento das emoções, etc.


Como filmes ficcionais e documentais e as séries televisivas podem fornecer lições valiosas de educação financeira e gestão orçamentária
Fonte: Leonardo Campos (Acervo Pessoal)

Dirigido e escrito por Ben Younger, O Primeiro Milhão, lançado em 2000, aborda a trajetória de Seth Davies (Giovanni Ribisi), um jovem que vive de maneira corrupta em ações popularmente conhecidas por trambiques. Certo dia, tem a oportunidade de trabalhar formalmente, escolha que tem como foco, impressionar o seu pai, um juiz federal que lamenta a vida que o filho leva. O problema é que nesta empresa, ele descobre que as coisas não são de fato como imaginado, pois ações corruptas poluem o ambiente empresarial, repleto de pessoas com ética duvidosa. Nesta narrativa, o que temos de interessante é o processo cíclico da economia, com mudanças bruscas que pedem cautela no momento de qualquer investimento. O Homem Que Mudou o Jogo, lançado em 2011, baseia-se num argumento de Sean Chervin, transformado em roteiro por Steve Zaillian e Aaron Sorkin, dramaturgos que entregarem para o cineasta Bennett Miller, a saga de um time de baseball da Califórnia, massacrados com seus orçamentos apertados. Eles contratam um gerente de finanças para lidar com a crise, pois as mudanças prometem melhorar o desempenho da equipe nos campos. Dinheiro aplicado, tendo em vista gerar resultados oportunos e análises de estatísticas e estratégias estão entre os temas refletidos no filme.


Na websérie brasileira R$100 Neura, a youtuber Fernanda faz os espectadores se divertirem e aprenderem educação financeira, nos episódios de cinco minutos, ideais para propostas pedagógicas sobre o assunto. Inspirada em situações aparentemente banais do cotidiano, o material demonstra como ter conhecimento sobre gastos e educação financeira são bases para a construção de pilares sólidos na vida adulta. Interpretada por Raissa Venâncio, a personagem também aborda poupança, numa linguagem acessível, cheia de referências ao mundo da cultura pop. Assinada pela Roquette Pinto Comunicação Educativa, em parceria com a AEF Brasil, a produção em 13 episódios diverte e reflete, tal como o didático e atraente Os Delírios de Consumo de Becky Bloom, tema do nosso próximo tópico sobre educação financeira e narrativas ficcionais. Antes de analisar a narrativa protagonizada com carisma por Isla Fisher, amarro este bloco com a série Billions, criada por Andrew Ross Sorkin, David Levien e Brian Koppelman. Na trama, Chuck Rhoades (Paul Giamatti) é um promotor público que investiga irregularidades nos negócios de Bobby Axelroad (Damian Lewis), responsável por um poderoso fundo de multimercados. Dentre os tantos temas, a série reflete como é importante termos conhecimentos mais que básicos sobre finanças para que possamos compreender os nossos negócios, investimentos e renda que pode variar a qualquer momento.


Propostas reflexivas com a comédia romântica Os Delírios de Consumo de Becky Bloom   

Quer saber mais? Acompanhe o nosso próximo artigo, combinado?

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