Literatura e Cultura: No Meio do Caminho, Drummond e o Modernismo Brasileiro
- Leonardo Campos
- 18 de set. de 2024
- 5 min de leitura
Conheça mais sobre o famoso poema de Drummond, um marco na poesia do modernismo literário no Brasil.
Conhecido por sua simplicidade estrutural e pelas leituras diversas que ganhou ao longo do século XX, ainda comentado nos dias atuais, No Meio do Caminho é uma das obras-primas do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade. É uma de suas produções mais polêmicas, alvo de debates e críticas sobre as suas plurais interpretações. Inserido no capítulo “Tentativa de exploração e interpretação do estar no mundo”, da Antologia Poética organizada pelo próprio autor, reajustada pelo cuidadoso trabalho da Editora Record, o poema em questão é uma manifestação literária sem rima, sem musicalidade, tampouco métrica, publicado em 1928 na Revista de Antropofagia, numa época conhecida por ser uma das primeiras fases do Modernismo Brasileiro. Em linhas gerais, é uma composição sobre os obstáculos que as pessoas encontram ao longo de suas existências, isto é, as pedras que interrompem os nossos fluxos cotidianos. Pode ser uma ação interrompida por falta de coragem, talvez a dor do luto diante de uma perda complicada de lidar. Numerosas são as possibilidades de interpretação, não é mesmo?
Publicado há quase cem anos, No Meio do Caminho é uma dos cartões-postais da obra drummondiana. É a comprovação de sua capacidade de ser, constantemente, contemporâneo, afinal, reflexões sobre desafios e encontrados em nossas trajetórias estão espalhadas como rizomas em outros poemas, contos, crônicas, filmes, séries, músicas, dentre outras manifestações artísticas. Com seu discurso despojado, humorado e de fácil acesso aos múltiplos tipos de leitores encontrados ao longo de sua longeva trajetória no campo da literatura brasileira, o poema de dez versos e duas estrofes brincou com a forma e se opôs ao processo de construção estruturado pela complexidade, como realizado, por exemplo, em Olavo Bilac, no sofisticado soneto Nel Mezzo del Camin..., composição que salvaguardadas as devidas proporções, versa sobre as mesmas questão, mas associado ao estilo parnasiano.
Seria o poema de Drummond, então, uma reação ao que se fazia no Parnasianismo? Pode ser que sim, ou talvez, quem interpretou assim tenha exagerado. Observado dentro de seu contexto, podemos dizer que o mineiro tenha criado No Meio do Caminho por meio da simplicidade, sem aderir aos excessos estilísticos do que se produziu por alguém tempo pelos parnasianos. Interessante observar que Drummond e Bilac fazem ressoar uma passagem do primeiro canto da Divina Comédia, do italiano Dante Alighieri, cada um, por sua vez, a refletir os obstáculos e as celeumas de suas respectivas trajetórias por meio de estilos e perspectivas diferentes. Bastante criticado na época, o modernista não teve a mesma recepção do colega de campo. Considerado bobagem e até mesmo uma afronta ao que se concebia por literatura, o poema sofreu represálias de alguns críticos e leitores, mas ao atravessar o tempo, tornou-se uma referência.
Citado em novelas, filmes, músicas, atualmente, nas redes sociais e artigos jornalísticos que utilizam a sua base para traçar relações com conflitos contemporâneos, No Meio do Caminho traz em sua estrutura uma palavra entrave: a pedra. Entre um verso e outro, ela se coloca como barreira. Seria uma alegoria para as resistências, defesas e forças inconscientes que nos dominam diante dos caminhos trilhados diariamente? Se levarmos para uma leitura psicanalítica, esta é uma assertiva possibilidade. Pedra também pode ser a hipértese de perda, conforme o olhar de um dos biógrafos de Drummond, ao afirmar que o poema pode ser uma produção que o ajudou a expurgar a perda de um de seus filhos, morto logo após o nascimento. Se sentarmos com um grupo de amigos que tenha o mínimo de conhecimento literário e a mente aberta para filosofar sobre as coisas da vida, o poema em questão pode gerar uma série de reflexões, novas interpretações e associações. É um daqueles marcos que atravessam épocas distintas e não perdem o vigor, reinterpretado dentro de possíveis novos contextos, sempre em transformação.
Depois do mapa mental, confira algumas peculiaridades sobre Carlos Drummond de Andrade o o movimento literário modernista.
E não esqueça das regras basilares: ler os contos, poemas e crônicas de Drummond são essenciais para a ampliação de seu entendimento sobre literatura e cultura, combinado? Carlos Drummond de Andrade foi um dos mais importantes poetas do movimento modernista brasileiro. Saiba mais sobre o seu estilo:
1. Linguagem Coloquial e Simplicidade: Drummond utilizou uma linguagem mais coloquial e acessível, rompendo com a tradição parnasiana de uma poesia mais rebuscada e erudita. Essa simplicidade trouxe a poesia para mais perto do cotidiano das pessoas.
2. Temas do Cotidiano: Ele trouxe temas do cotidiano para a poesia, explorando as pequenas coisas da vida diária, o que ajudou a aproximar a literatura dos leitores comuns e a refletir sobre a realidade brasileira de forma mais direta.
3. Ironia e Humor: O uso de ironia e humor é uma marca significativa na obra de Drummond. Essas ferramentas o ajudaram a criticar aspectos da sociedade, da política e da própria literatura, de uma forma que era ao mesmo tempo crítica e acessível.
4. Conflito Existencial: Drummond trouxe para sua poesia o questionamento existencial, explorando as angústias e incertezas do ser humano. Poemas como "José" são exemplares disso, refletindo sobre a busca de sentido na vida.
5. Inovação Formal: Ele inovou na forma poética, experimentando com versos livres e quebrando a rigidez da métrica e da rima tradicionais. Isso contribuiu para a evolução da poesia moderna no Brasil.
6. Compromisso Social e Político: Muitos de seus poemas abordam questões sociais e políticas, comprometendo-se com a realidade do país. Obras como A Rosa do Povo refletem sobre o contexto da Segunda Guerra Mundial e a vida brasileira da época.
7. Universalidade: Embora profundamente brasileiro, Drummond conseguiu universalizar suas questões, tornando-se relevante não apenas no Brasil, mas também em um contexto global. Sua obra transcende fronteiras culturais e temporais.
8. A Introspecção e o Eu Lírico: A introspecção e o foco no eu lírico são fortes em sua poesia, explorando a subjetividade e os dilemas internos, o que trouxe uma nova profundidade emocional e psicológica para a poesia modernista.
9. Influência da Cultura Brasileira: Drummond incorporou elementos da cultura brasileira, incluindo a diversidade regional e social, refletindo uma ampla gama de experiências e sensibilidades brasileiras em sua obra.
10. Proliferação e Diversidade de Gêneros: Além da poesia, Drummond escreveu crônicas, contos e ensaios, contribuindo para uma variedade de gêneros literários e ampliando seu alcance como escritor modernista. Seus textos em prosa mostram uma perspectiva crítica e humanista da sociedade.
Essas características ajudam a entender a profundidade e o impacto da contribuição de Carlos Drummond de Andrade para o modernismo brasileiro, consolidando-o como uma figura central na literatura do século XX.
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