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A Função Social da Pesquisa Científica

A pesquisa como um ato de cidadania e pavimentação de uma sociedade avançada intelectualmente.


A Função Social da Pesquisa Científica
Fonte: Elaboração de Projetos de Pesquisa (Leonardo Campos)

Pesquisar é um ato de cidadania. Isso é o que você, caro leitor, encontrará nos textos que acompanham esta sequência de reflexões sobre a importância da pesquisa e suas associações com narrativas ficcionais, ideais para permitir uma compreensão abrangente e diferenciada do ato de investigação científica, algo que, inclusive, vai além das instituições legitimadas e se encontra diariamente em nossas dinâmicas cotidianas de estabelecimento de problemas, hipóteses, objetivos e metodologias para condução da vida. Projeto já em desenvolvimento desde 2017, quando me interessei por analisar as possibilidades de trabalhar metodologia científica no Ensino Médio e assim, permitir aos estudantes um maior preparo para a pavimentação dos caminhos rumos ao Ensino Superior, A Função Social da Pesquisa: Itinerários Cinematográficos é uma proposta que pretende analisar como filmes ajudam na compreensão dos processos que envolvem a criação de um projeto de investigação científica. A proposta pausada por alguns anos ganhou fôlego com a coluna Ciência, Cultura e Sociedade, no site Bahia Pra Você, portal de notícias, cultura e informação onde assinava textos semanais dentro desta temática.


Ao longo das próximas empreitadas textuais, será possível observar como o cinema e a ficção audiovisual televisiva nos permite refletir, por meio de espelhamentos, a função social de uma pesquisa científica. A personagem de Erin Brockovich, interpretada com maestria por Julia Roberts, redescobre o seu valor e exerce a cidadania por meio de um processo que envolve a metodologia da pesquisa, com suas falhas e acertos, tal como qualquer ser humano diante da pavimentação de um esquema envolvendo aprendizagem. Sean Connery, ao estabelecer a necessidade do racionalismo e dos métodos indutivos e dedutivos em O Nome da Rosa, também nos leva por uma jornada pelos meandros das etapas e procedimentos de uma pesquisa. O divertido e não planejado encontro com o vibrador, na comédia dramática Histeria, situada no século XIX, também nos mostra avanços de um projeto de pesquisa em torno da sexualidade humana, algo visto também no assertivo Kinsey – Vamos Falar Sobre Sexo.


Vamos, agora, versar um pouco sobre a função social da pesquisa, presente nas narrativas mencionadas. A produção de conhecimento é algo que a humanidade buscou em sua evolução para tornar a vida melhor e permitir o desenvolvimento nas sociedades que se ampliavam cada vez mais, algo que também está associado com questões políticas e econômicas. Criar uma cultura científica requer investimentos substanciais em educação e cultura. O fazer científico, é, também, ir além dos estereótipos do laboratório e de todo maquinário, algo que habita o nosso imaginário, curiosamente, por diversas representações, algumas delas, cinematográficas. Por isso, pensar a pesquisa e a ciência é sair desta zona imaginativa e buscar compreender a sua presença também em nosso cotidiano. Um exemplo que utilizo sempre com meus estudantes é a minha indisposição digestiva ao me alimentar com pimentão. Observe: comecei a perceber que todas as vezes que inseria o vegetal na alimentação, sentia algum mal-estar posterior. Ao notar isso, comecei a averiguar e constatei que este era um item a ser retirado de minha dieta.


A Função Social da Pesquisa Científica
Fonte: Elaboração de Projetos de Pesquisa (Leonardo Campos)

Exemplos assim demonstram que a metodologia da pesquisa está também em nosso cotidiano, pois ao perceber a questão mencionada, tinha uma hipótese. Logo adiante, um problema, seguido de uma justificativa, afinal, se o vegetal me fazia mal, por qual motivo mantê-lo em minha rotina alimentícia diária, não é mesmo? Para isso, foi preciso um método de testagem, a comparação com comidas produzidas sem tal produto, para chegar aos momentos conclusivos. O exemplo pode parecer muito simplório, mas a ideia era reforçar a importância do pensamento investigativo para a formação da cidadania e a adesão ao posicionamento diário mais crítico. Pesquisar, como podemos encontrar dicionarizado, é um processo de produção de conhecimentos para compreendermos uma determinada realidade. Em linhas gerais, significa indagação, averiguação, inquirição e investigação.   


Assim, a função social da pesquisa é a interpretação do mundo em que vivemos, isto é, a prática social do conhecimento, com foco no objetivo de melhorar a convivência em nosso tecido social, numa busca nobre pelo mencionado conhecimento, mas também para inovação, algo de tom pragmático, ideal para a geração de riquezas, principalmente se falamos em um país como o nosso, território onde se faz necessário reduzir a desigualdade e promover o desenvolvimento. A pesquisa é algo fundamental para qualquer área, pois visam à melhoria e a evolução material da sociedade, permitindo que sejam geradas uma diversidade de políticas públicas engrandecedoras, focadas no bem-estar social. O Brasil, por exemplo, ainda é um país paradoxalmente dependente de produtos desenvolvidos científicos por outros países, algo curioso vindo de uma nação com condições geográficas, econômicas e culturais com potencial para ser autônomo, pois é a sua incapacidade de produzir conhecimento que o torna desigual.

A Função Social da Pesquisa Científica
Fonte: Elaboração de Projetos de Pesquisa (Leonardo Campos)

Por isso, as universidades precisam reforçar, além das funções primordiais de ensino (formação de recursos humanos) e extensão (interação entre a comunidade universitária com a sociedade em geral), construindo também boas iniciativas de pesquisa, isto é, a geração de novos conhecimentos. Em nossa realidade, infelizmente, a pesquisa ocupa uma posição de supérfluo, paradigma que deve ser urgentemente desconstruído para que a população entenda a importância da pesquisa no desenvolvimento da sociedade. Como assertivamente apontado por Bruno Prata em artigo para a revista Duplo Expresso, em 2019, pesquisa não é luxo, pois nenhum país considerado desenvolvido na contemporaneidade deixou de realizar investimentos maciços em educação básica e superior enquanto pavimentavam os seus caminhos industriais. Aqueles que atingiram um patamar elevado no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), os dados que refletem a qualidade de vida de uma determinada população, também não tiveram a investigação científica como algo menor, de importância reduzida, como atualmente no Brasil.


Soberania nacional se alcança com novos conhecimentos. Sem investimentos no segmento em questão, muitos problemas competitivos se originarão, desde a geração de empregos ao processo de compreensão da própria sociedade. Falta muito o estabelecimento de uma cultura empreendedora e a diminuição das burocracias para que a atividade da pesquisa esteja mais firmemente em todos os setores possíveis de nossa sociedade. Ademais, importante ressaltar que além de existir, a pesquisa precisa ser transformadora. Temos muitos desafios, em especial, depois do ultrajante período trevoso que atravessamos desde 2018, quando o interesse em pesquisa se perdeu ainda mais, sem investimentos e sucateamento de programas fundamentais para que possamos crescer sem depender do que é produzido em outros territórios mais avançados nas dinâmicas de desenvolvimento científico e tecnológico. Por fim, outra preocupação que precisa ser pauta é a falta de perspectiva para projetos em áreas que não apresentam uma perspectiva de retorno imediato, como por exemplo, as ciências sociais.


A ideia aqui é que o leitor possa compreender a importância e a função social da pesquisa em nosso cotidiano e, concomitantemente, aprenda as etapas de elaboração de um projeto e do desenvolvimento de uma empreitada científica, subsidiados pelos ensinamentos dos filmes selecionados para as próximas reflexões. Aprenderemos um pouco sobre a busca pelo conhecimento no épico Guerra do Fogo, de Jean-Jacques Annaud, além de passear pela ética na pesquisa com a aventura Do Fundo do Mar, de Renny Harlin, uma narrativa de entretenimento que pode nos ajudar a refletir sobre os limites da ciência, questão que também está presente no empolgante Vida, dirigido por Daniel Espinosa. São narrativas para vários gostos e experiências. Do mais complexo ao mais popular e simplório, os filmes selecionados pretendem fornecer ao leitor um amplo panorama sobre a importância da pesquisa, sem deixar de ser uma jornada divertida e com garantia de muita aprendizagem.


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